segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Retrospectivas

Fim de ano é tempo de retrospectivas. Podemos destacar as mais comuns de diversos meios de comunicação, tal como Globo ou Record; ou mesmo de meios menos "editoriais" tal como o twitter, facebook (aqui tem a minha retrospectiva pessoal) ou a wikipedia.

Ou no Youtube

Mas há algo mais aqui, além de ser uma "pauta fácil" para os veículos de comunicação.
Exemplo de pauta fácil: lascar o cacete em serviços públicos ruins (ou nem tão ruins assim).
As retrospectivas são, via de regra, um exercício de edição. Há nelas, tirando algumas exceções, a mão de um editor: há nelas a tentativa de se criar uma narrativa coerente do que aconteceu ao longo do ano.

Isso não é necessariamente algo ruim, mas certamente é bastante revelador

As retrospectivas são interessantes pois revisitam os acontecimentos do ano tentando ressaltar os que são considerados relevantes. Naturalmente, mesmo tendo passado alguns meses, a idéia de ser possível destacar o que é importante ou relevante é ilusória.

Por que?

Porque as ramificações e os efeitos, e mesmo a importância só ficam claras com o passar do tempo. O que foi uma nota de rodapé em um determinado ano, pode se transformar no maior acontecimento daquele ano (quiça mesmo da década).
Conhecida também como "deu zebra"!
E de modo similar o que parecia muito importante torna-se pequeno ou que teve sua importância inflada de modo artificial - ao se imaginar que seria um momento chave na história (que acabou não sendo).
Um exemplo em particular vem a mente...
Mas o que seria deste blog se não existissem exemplos para provar o ponto? Um dos exemplo mais comuns é no cinema. Quais os filmes de 1977 que ficaram na história?

Temos aí diversas narrativas que tem resultados diferentes dependendo de quando foram feitas. A lista do Oscar de 1977 diz o seguinte:
Certamente o filme de Woody Allen é muito, muito bom mesmo. Mas 1977 foi o ano de foram lançados Contatos Imediatos do Terceiro Grau e Guerra nas Estrelas. E que me perdoe o caro Woody Allen, mas Guerra nas Estrelas é um filme com muito mais impacto do que Noivo Neurótico, Noiva Nervosa. Isso não tem sequer disputa (olhem o número de hits do google, se duvidarem, caros leitores).

E quanto ao filme estrangeiro? Bom, 1977 foi o ano de lançamento de O Amigo Americano, Este Obscuro Objeto de Desejo entre outros.

Que tal dar uma olhada na lista dos filmes de 1977 que valem a pena ser assistidos e dos filmes de 1977 mais populares? Notaram a diferença?

O leitor pode achar que estou pegando um caso particular e transformando em regra geral. Mas, vamos a outro: Oscars de 1982
Muito bem, Ghandi certamente é um excelente filme. Mas que outros filmes tiveram impacto maior e que também foram lançados em 1982? Temos Blade Runner, temos ET.

E do mesmo modo, no caso do filme estrangeiro temos Fitzcarraldo, O Retorno de Martin Guerre, Fanny and Alexander...

A lista é bem explicativa: temos os mais populares e os que merecem ser assistidos. Há alguma correlação, mas ela não é nem de longe 100%.

Se o leitor ainda não está convencido deixo aqui mais um exemplo de 1981: o ganhador do Oscar e o de maior impacto. E o detalhe é que o filme de maior impacto também estava cotado para ganhar o Oscar, mas...
Segundo a Academia do Oscar esta é a imagem icônica dos filmes de 1981
Ao invés desta imagem.
Claro que podemos argumentar: "Ah, RAX, mas o filme que ganhou o Oscar era realmente melhor...". Bem, aí eu digo: Melhor como? O efeito social do filme que não foi escolhido foi várias ordens de magnitude maior que o "melhor" filme. O que isso diz sobre os editores da retrospectiva?

Bem, o mesmo fenômeno pode ser visto na música, artes e ciências. Mas na retrospectiva dos acontecimentos mais importantes, ou seja na história é que as coisas realmente mostram as polarizações dos juízes (ou editores, caso os leitores prefiram).

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Uma Oportunidade Perdida

Eu já mencionei aqui diversas vezes que sátiras tem um problema sério: nem sempre as pessoas entendem.

Mas para tranquilizar a todos deixo aqui um exemplo que é uma pérola: A Mercedes Benz usando uma música de Janis Joplin em um comercial.

Na realidade, em diversos comerciais...


O mais legal é que, naturalmente, a música de Joplin é uma sátira ao consumismo e ao estilo de vida consumista.

E tudo isso parece que passou desapercebido pelos criadores do comercial. Mas apenas parece... Já não pode se dizer o mesmo da audiência.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Individualidades

A despeito do meu último post "meio revoltado", há algumas lições que podemos tirar da matemática para entender algumas falácias argumentativas.

Claro que estou falando de probabilidades e teorema de Bayes. E isso é a famosa probabilidade de A dado que B ocorreu (p(A|B))

Normalmente, as pessoas confundem p(A|B) com p(B|A). E aí nascem vários argumentos equivocados que pululam não só as redes sociais, mas como o cenário real. Querem exemplos?

p(negro dado que é pobre)=p(negro|pobre) é diferente p(pobre dado que é negro)=p(pobre|negro). Isto fica mais claro quando colocamos as definições frequentistas de probabilidade:

  • p(negro dado que é pobre) é o número de negros pobres dividido pelo número de pobres.
  • p(pobre dado é negros) é o número de pobres negros dividido pelo número de negros.

Note que as duas definições são bem diferentes. E nessa diferença está o céu e o inferno: há pessoas que utilizam as definições para justificar malabarismos mentais sobre causas e efeitos. Mas não é nada disso.

Analisando p(pobre dado que é negro) se estuda na população dos negros quantos são pobres. É de se esperar, que se pobreza e cor não estiverem relacionados, emtão p(pobre dado que é negro) deveria ser o mesmo (ou aproximadamente igual) a p(pobre dado que é não-negro). Bem, mas a beleza de Bayes (e de amostragem) é que é possível verificar isto de modo aproximado sem sair por aí contando tudo.

Primeiro estabelecemos a relação p(negro) e p(não negro). Isso pode se feito com a análise de fotografias tiradas aleatoriamente e em grande número - de modo que se posso estimar a proporção entre o número de negros e não negros nas fotos. Para isso podemos fazer o seguinte teste: pedimos que as pessoas que tirem muitas fotos de várias multidões em todas as cidades do país.

Depois fazemos uma seleção aleatória destas fotos.

E por fim contamos o número de negros e o número de não negros. Assim temos uma bela estimativa da proporção entre negros e não negros.

Claro que há o problema da polarização de vários elementos que "arbitram" diferentes linhas divisórias entre preto e branco. Mas isso também pode ser resolvido aumentando o número de pessoas que contam o número de negros e não negros nas fotos. Ao final se faz uma média e temos uma "interpretação média" da divisão de cor.

Muito bem, uma vez que tenhamos isso ainda falta definir p(pobre dado que é negro). Para tanto vamos calcular aqui também o p(pobre) e o p(não pobre). E isso pode ser feito também de forma similar: pedindo as pessoas para identificar a proporção de pobres nas fotos. E aí temos de novo o problema: o que é pobre? Neste ponto talvez fique mais fácil definir quem é miserável do que quem é pobre. Mas dessa forma temos novamente as proporções desejadas.

Por fim temos de procurar no conjunto dos pobres encontrados o número de pessoas negras. E com isso teremos p(negro dado que é pobre).

Pelo teorema de Bayes

p(pobre dado que é negro) = p(negro dado que é pobre)*p(pobre)/p(negro)

E então teremos um valor empírico e muito mais próximo da realidade do que o achismo de ativistóides, fascistas ou idiotas úteis podem sonhar.

E claro todo o universo do achismo pode ser submetido a este teste: p(pobre dado que é o regime é capitalista), p(morrer rico dado que nasceu rico) e assim pode diante.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Verdadeiras Mentiras

No espírito do tópico sobre falácias, eu resolvi meio que "traduzir" o que as pessoas querem dizer de verdade.

Eu faço isso baseado em dois princípios:

  • Na maior parte das vezes o julgamento baseado em um modelo simples está correto (isso é empírico: as razões convolutas, de grande profundidade e muitas ramificações raramente são as verdadeiras motivadoras das ações).
  • Quando a causa não pode ser sustentada por uma tese de amplo apoio, as pessoas preferem esconder a verdade dizendo exatamente o oposto do que querem na realidade.

Então seguindo estas diretrizes, é possível traduzir alguns textos que estão por aí. Vamos a uns exemplos:

  • "Fora PM repressora dos estudantes no campus da UnB!" na realidade quer dizer "Deixa eu fumar minha maconha aonde eu quiser na UnB!"
  • "Pela democratização da mídia na realidade" quer dizer "Quero Ibope igual também para as agências que divulgam as notícias que gosto!"
  • "Liberdade de expressão respeitando as individualidades" quer dizer "Liberdade de expressão só para o que eu acho que deve ser livre"

Aliás o último é conhecido como Liberdade de expressão, mas convenhamos...

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O Grande Laboratório do Uruguai

O Uruguai aprovou hoje a liberação da comercialização e consumo da Maconha.

Esta é mais uma das leis "pogressistas" que o Uruguai decidiu colocar para funcionar.

Isto para todo mundo pode ser bom! Bom, para todo mundo com a possível exceção do Uruguai.

Eu acredito que qualquer que seja o resultado, o mundo inteiro pode se beneficiar dos resultados dessa decisão. Se a situação melhorar, teremos pelo menos um dado real. Se piorar, teremos pelo menos um dado real.

Mas antes de mais nada é importante entender o que significa a situação melhorar ou piorar. Se isto não for definido a priori, então fica difícil (ou fácil, dependendo do caráter do argumentador) dizer se ficou melhor ou pior. Vamos listar algumas variáveis cuja evolução merece ser observada:

  • População (2011 - 3 milhões 383 mil)
  • Número de mortes anuais (2011 - 33 k)
  • Taxa de mortalidade (2011 - 9.8)
  • Número de nascimentos (2011 - 47 k)
  • Taxa de natalidade (2011 - 13.8)
  • População carcerária (2012 - 9.5 k)
  • Presos por centena de milhar (2012 - 281)
  • Número de homicídios (2012 - 265)
  • Roubos (2010 - 15094)
  • Percentual de prisioneiros estrangeiros em prisões (2.7%)

Então a idéia é a seguinte: vamos olhar como estes números variam daqui para frente. Mas é importante saber também as atuais taxas de crescimento e variâncias associadas.



quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Zero Dark Thirty

Vi recentemente o filme Zero Dark Thirty que trata da caçada de Osama Bin Laden.

O filme é interessante, mas o que me impressionou foi como o teorema de Bayes estava implícito em diversas cenas do filme. E não fui o único que percebeu.

E trata-se do problema do falso positivo. Esta é a probabilidade de se decidir algo e errar!

Ah, e o filme mostra algo interessante: o uso mais ou menos correto de uma maleta de interceptação telefônica de celulares.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sustentabilidade

Toda vez que leio sobre sustentabilidade, eu tenho um entendimento diferente da maioria das pessoas. Para mim, algo que é explorado até a exaustão não pode ser considerado sustentável. O que é sustentável é algo que pode ser explorado de modo a nunca acabar.

Pelo que eu entendo, algo é sustentável se no longo prazo, sua interação com o objeto de seu consumo for finito (ou tender a um limite). Quando eu penso em algo sustentável, logo me vem a mente a equação diferencial presa-predador.

\frac{dx}{dt} = x(\alpha - \beta y)
\frac{dy}{dt} = - y(\gamma - \delta  x)
Que possui um equilíbrio dado por:

x(\alpha - \beta y) = 0\,
-y(\gamma - \delta  x) = 0\,
Descartando a solução trivial temos:

\left\{ y = \frac{\alpha}{\beta}, x = \frac{\gamma}{\delta} \right\},\,
Para mim, isto é que sustentabilidade significa: um equilíbrio
Mas suspeito que quem fala sobre sustentabilidade não tem sequer idéia do que isso significa. E nem adianta tentar explicar, creio que a maioria destes iria parar de ler este texto ao ver a palavra "explorado" no primeiro parágrafo.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Estimativa final da inflação

Com a divulgação do IPCA de novembro chegamos ao final da epopeia: a predição final para inflação de 2013 é de 5.32%.

Baseado no modelo há uma chance de 84% da inflação ser 5.18% e uma chance de 16% da inflação ser de 6.07%.

Olhando o passado a estimativa de inflação foi:
  • Janeiro - 6.32%
  • Fevereiro - 6.44%
  • Março - 6.43%
  • Abril - 6.51%
  • Maio - 6.39%
  • Junho - 6.16%
  • Julho - 5.68%
  • Agosto - 5.43%
  • Setembro - 5.29%
  • Outubro - 5.39%
  • Novembro - 5.32%
Nada mal, mas só saberemos o quão próxima previsão foi do resultado em janeiro de 2014.