quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Argumentum ad populum

Caro leitor, a falácia de hoje é conhecida de todos, pois afinal: Todo mundo faz, por que você não vai fazer também?
Também pode tomar a forma de apelo à tradição.
Este é conhecida como a falácia argumentum ad populum.
E olha que funciona mesmo... Ser contra a maioria é difícil...
Os exemplos são os mais variados: a terra era plana, o sol gira em torno da terra, quem não cola não sai da escola, todo mundo faz caixa 2, as eleição absolveu o político acusado (ou condenado), a voz do povo é a voz de Deus, tudo isso são exemplos de argumentum ad populum.
Você certamente já viu algo assim... Mas e a coragem para chamar este pessoal de tolos?
Portanto, caro leitor, quando enxergar um caso desses fale em alto e bom tom: Lamento, mas seu argumento é baseado uma falácia do tipo Argumentum ad Populum.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

E dito e feito

Fazendo mais simulações com o programa anterior, cheguei a uma conclusão:
Abstenção - o retrato do passado.
A abstenção, quando distribuída aleatoriamente entre a população, não causa mudança na diferença do resultado da pesquisa de opinião e da eleição normal. A diferença só acontece quando um grupo com preferência em um candidato específico deixa de comparecer às urnas..
Abstenção - nem sempre por motivos confessáveis.
Ah, mas por que se abstiveram? Aí há opinião para tudo.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Pesquisas e Eleições - Simulações

Eu já havia postado um código em MATLAB mostrando como as pesquisas funcionam. Bem, agora vou mostrar a questão em maiores detalhes.

A seguir trago um código MATLAB aonde uso Monte Carlo para mostrar o efeito de diversas pesquisas. Neste modelo, a amostragem é aleatória e são utilizados diversos tamanhos de amostras (2,4,8,16..2048), e são realizadas 1000 pesquisas. O resultado mostrado é o da média, desvio padrão e histograma das pesquisas resultantes. Vamos ao código:

% Exemplo de amostragem em uma população - Convergência da amostragem
clear
% N tamanho da população
N=100000;
% N1 é o número de amostras retiradas aleatoriamente da população
Ne=11;
Nt=Ne;
Nr=1000;
ex=linspace(1,Ne,Nt);
Nx=2.^ex;
% N1=2048;
% p é o percentual que vota no candidato X (não sei e é aleatório)
p=0.55;
% Número de votantes do percentual
Np=round(N*p);
% a é a população de votantes
a=zeros(N,1);
% Preenchimento aleatório dos não nulos
g1=randperm(N);
for k=1:Np
    a(g1(k))=1;
end;
% vetor com índices da amostra - aleatória
for k1=1:Nt
    for m=1:Nr
        g=randperm(N);
        % s é o vetor de amostras
        s=zeros(Nx(k1),1);
        for k2=1:Nx(k1);
            % Processo de amostragem
            s(k2)=a(g(k2));
        end;
        s1(m)=mean(s);
    end;
%     Monte Carlo
    r1(k1)=mean(s1);
    r2(k1)=std(s1);
end;
% mostra o tamanho da amostra, o percentual na amostra completa e o percentual da estimativa
% 100*[p mean(a) r]
plot(Nx,100*(r1-p))
figure
plot(Nx,100*r2)
figure
hist(100*s1);

Neste exemplo, o candidato em questão tem 55% dos votos reais. Os resultados podem ser vistos nas figuras a seguir.
Erro da Média das 1000 pesquisas para N=2,4..2048
Neste gráfico temos que o erro da média de todas as pesquisas tende a zero quanto maior o número de amostras. Mas como isto trata da média de 1000 pesquisas, então o que sabemos é: quanto maior o número de pesquisas, mais próximo de zero é o erro da média de todos os resultados.
Desvio padrão de 1000 pesquisas, com diferentes tamanhos de amostras (2,4...2048)
Neste gráfico temos o desvio padrão de todas as pesquisas. O que vemos é que somente quando o número de amostras em pesquisas começa a ser grande (maior do que 100) é que o desvio vai tendendo a ser pequeno (no caso, com 128 amostras ainda temos um desvio padrão entre as pesquisas na vizinhança de 5%). Como 1024 amostras, o desvio é de 1.527%, já com 2048 amostras o desvio é de 1.085%. Ao limitarmos o intervalo de confiança em 95% equivale a dizermos que o erro é de 1.527*1.96=2.992% para 1024 amostras e 1.085*1.96=2.1266% para 2048 amostras. Mas o que isso significa? Podemos ver isso melhor com o histograma.

Histograma para o caso de 2048 amostras - 1000 pesquisas.
Aqui vemos que 285 das 1000 pesquisas terão o resultado entre 54.44% e 55.2%, ou que 706 das 1000 pesquisas terão o resultado entre 53.69% e 55.96%, ou que 903 das 1000 pesquisas terão o resultado entre 52.93% e 56.71% (perto dos 2% esperados).

Este modelo pode ser utilizado para verificar o efeito da abstenção na eleição. Eu suspeito que a abstenção talvez altere o intervalo de confiança presumido.

domingo, 28 de outubro de 2012

As Pesquisas e as Eleições

Chegou aquela hora de toda eleição: comparar os resultados das pesquisas com o das eleições.
Queria ou não, este é o símbolo das eleições no Brasil.
Vamos aos resultados versus (pesquisas):


São Paulo

  • Haddad - 55.57% (59% Ibope, 58% Datafolha)
  • Serra - 44.43% (41% Ibope, 41% Datafolha)

Curitiba

  • Fruet - 60.65% (57% Ibope, 60% Datafolha)
  • Ratinho Jr - 39.35% (43% Ibope, 40% Datafolha)

Salvador

  • ACM Neto - 53.51% (55% Ibope)
  • Pelegrino - 46.49% (45% Ibope)

Fortaleza

  • Claudio - 53.02% (51% Ibope, 50% Datafolha)
  • Elmano 46.98% (49% Ibope, 50% Datafolha)

Manaus

  • Artur Virgílio - 65.95% (67% Ibope)
  • Vanessa - 34.05% (33% Ibope)

Natal

  • Carlos Eduardo - 58.31% (61% Ibope)
  • Hermano - 41.69% (39% Ibope)

O que dá para ver é que o erro não é tão grande assim. Mas é maior do que 2% na maioria dos casos (fica, na maioria dos casos entre 2% e 3%). A pergunta importante a ser respondida é: por que?

sábado, 27 de outubro de 2012

Plantinhas Boazinhas

Trago hoje um clássico da ficção científica do tipo eco-lindo: Silent Running

Também tive sorte de encontrar o filme completo na internet:

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O Apagão, Belo Monte e o Improvável

E de novo apagou tudo. Só que desta vez foi no Nordeste.
De novo?
Eu já comentei sobre a estranha situação de silêncio sobre o assunto no Brasil. Já estou começando a suspeitar que a falta de comentários é porque os afetados estão com medo de ser acusados de vigarice intelectual-ideológica (afinal atiram pedras em um partido por um motivo e não em outro pelo mesmo motivo).
Imagens de apagão são meio escuras...
E como já comentei em outro post, as máscaras de independência e isenção jornalísticas estão ficando difíceis de serem sustentadas.
Esta ficando difícil não acreditar que é isso que está acontecendo...
Mas, vamos ao assunto principal, caro leitor...

Vendo notícias sobre o apagão, eu encontrei uma pérola que merece ser relatada:

"o apagão foi feito pelo governo como forma de forçar o cidadão a protestar em prol da construção de belo monte"

Este não foi o único tweet que encontrei. O pessoal que escreveu coisas similares e muitos acabaram apagando, provavelmente porque deve ter tido alguma resposta (aliás, parece que o pessoal ficou mais preocupado com as piadinhas sobre o Nordeste do que com as idéias ecoloucas do pessoal da internet).
"Nunca se investiu, se olharmos os últimos dez anos, tanto como se tem hoje." Imagine se não tivesse investido, então...
Mas este tipo de post levanta dois fatos importantes: o sistema elétrico brasileiro tem problemas, e há pessoas que, a despeito das maiores evidências em contrário, não irão, sob nenhuma circunstância, admitir alterar o seu ponto de vista (e consequentemente admitir o erro).
Outliers: os famosos pontos fora da curva.
Eu gostaria de batizar este pessoal de outliers da opinião, que significam mais ou menos as opiniões fora da curva.
Einstein: um exemplo clássico de Outlier.
Note que isso nem sempre tem uma conotação positiva...
Temudjin: outro exemplo clássico de Outlier.
Eles sempre existiram, mas agora há algo mais aqui: a internet deu mais poder de fogo a este pessoal. Hoje esse pessoal faz muito barulho.
Pena que não fui eu que bolou este logo.
Talvez na vida diária, como na estatística, os Outliers podem conduzir a decisões erradas (e potencialmente catastróficas).

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Tu Quoque

Existe uma classe de argumentação que invariavelmente é baseada em premissas falsas. A idéia não é nem tanto avançar o debate, mas "ganhar" o debate. Como devem saber, isto é muito, muito comum na internet.

Já falei destas argumentações: são as falácias lógicas.

Então, para variar, como este blog trata das mentiras que as pessoas contam, resolvi começar uma nova série ligando estas falácias a debates mais atuais.
Tu Quoque para iniciantes.
Então, começando em grande estilo, a falácia de hoje é a Tu Quoque (você também). Esta falácia também é conhecida como Apelo à Hipocrisia. Esta falácia é uma variação muito usada de argumentação ad-hominem.
Isto é um Tu Quoque: "STF julgou mensalão do PT, mas não o Tucano. Logo está Errado por que é Hipócrita"
Ela é extremamente comum atualmente: desde candidatos a prefeito, passando por "jornalistas", passando por humoristas (de modo bem velado mesmo), passando por ex-presidentes, passando por desembargadores, e mesmo juízes.

Claro que nos últimos casos, a falácia está lá cercada de uma duzia de argumentos bem lógicos. Mas ela é o centro da argumentação - dela partem todos os demais pontos.

Mas não pensem que ela está restrita a cenários políticos. Muitos argumentos por aí são baseados em Tu Quoque.

Portanto, caro leitor, quando enxergar um caso desses fale em alto e bom tom: Lamento, mas seu argumento é baseado uma falácia do tipo Tu Quoque.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Coisas De Louco

Tem horas que não dá para não acreditar que os idiotas dominaram o mundo.

Caso em questão?

Na Itália sete sismologistas foram condenados por homicídio culposo devido a terem falhado em predizer o terremoto de L'Áquila em 2009. Duvida?

                   
                   
                   
                   

Sei que parece idiota. Bem, realmente é...

Predição de terremotos é algo notavelmente difícil e nenhum cientista sério diria que nem que "sim", nem que "não" quanto a haver ou não um terremoto.

Bem qual é a saída? Acredito que responsabilizar alguém por falhar em predizer terremotos é tolice, segundo o estado da arte da sismologia. Mas se é para responsabilizar sem critérios mesmo, que tal o seguinte: quando juízes prenderem inocentes, ou soltarem culpados, que tal responsabilizar os mesmos criminalmente?

Ah, mas não pensem que estas maluquices acontecem só na Itália não...

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Avenida e o Brasil

Na última sexta-feira, estava eu no meu tradicional happy hour e o assunto se encaminhou para o desfecho da novela Avenida Brasil.
O núcleo dramático da novela: Carminha versus Nina.
Eu já havia presenciado este tipo de fenômeno antes, outras novelas tiveram efeito parecido.
Quem matou Salomão Ayala? Ora Edwin Luisi!
Mas a razão de tamanho efeito é algo que merecia ser estudado em detalhes. Há uma interação entre os espectadores e a novela (que pode ser medida em parte pela audiência), que, em casos como o da Avenida Brasil, galvaniza toda uma nação.
Corre a história que Escrava Isaura parou a China e mudou horário de jogos em Cuba.
Não pensem que isto é fenômeno brasileiro. Este efeito realmente atravessa fronteiras. Esta aí um tema que valia uma investigação acadêmica de verdade (o primeiro passo teria de ser deixar a ideologia na soleira da porta)

domingo, 21 de outubro de 2012

A Maldade Humana

Uma outra série que marcou época nos anos 70 foi Holocausto.

A minissérie tratava do genocídio visto sob a perspectiva de uma famílía: os Weiss.

Apesar do grande sucesso, o seriado sofreu muitas críticas.

Principalmente por trivializar o genocídio (e algumas de falta de acurácia histórica nos detalhes).

Eu discordo destas críticas. Foi justamente este seriado que me introduziu a um dos maiores crimes da segunda guerra mundial. Claro que depois fui descobrindo que este não foi o único crime, e nem apenas os alemães que foram carrascos. Mas isto é outra história...

sábado, 20 de outubro de 2012

Emmanuele, Sylvia Kristel e o Tempo

Faleceu na quinta-feira a atriz Sylvia Kristel, a famosa Emmanuelle. Lembro vagamente do filme.

Pelo trailer, já dá pare ver que o filme causou sensação. Mas hoje provavelmente poderia ser exibido na seção da tarde.

O filme foi baseado no romance de Emmanuelle Arsan (Marayat Andrianne)
Note que ela não é exatamente Caucasiana.
Que não tem nada a ver com Sylvia Kristel.
Dá para notar há certas diferenças em relação a Emmanuele Arsan original.
No entanto, o tempo não para. E a bela Sylvia de 1970 foi vivenciando o passar do tempo.
Tempo, tempo, tempo, tempo...
A lição aqui talvez possa ser sumarizada em um belo poema de Robert Herrick.


Gather ye rose-buds while ye may,
    Old Time is still a-flying:
And this same flower that smiles to-day,
To-morrow will be dying.

The glorious Lamp of Heaven, the Sun,
    The higher he's a-getting
The sooner will his race be run,
    And nearer he's to setting.

That age is best which is the first,
    When youth and blood are warmer:
But being spent, the worse, and worst
    Times, still succeed the former.

Then, be not coy, but use your time;
    And while ye may, go marry:
For having lost but once your prime,
    You may for ever tarry.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Horário de Verão II

Para que o leitor entenda um pouco de como a infantilização do debate pode ser usada de forma a deixar o mesmo simplista, eu apresento aqui o caso do horário de verão.
Não é questão de gostar ou não. A questão é para que serve!
O horário de verão começa no dia 21/10/2012 e vai até 17/02/2013.
Já falei em um post anterior que o horário não tem efeito igual em todo o país.
A razão é economia de energia.
Energia é a questão principal.
Vamos a infantilização:
Bandido: os malvados que impõe a população a arbitrariedade do horário de verão
Mocinho: a deputada distrital que quer trazer a decisão de ter ou não para a população.
Uma arbitrariedade!
Até as pobres criancinhas! Que horror!
Parece óbvio, não?

Mas o horário de verão também evita que sejam necessários investimentos em geração "não verde"! Então ao mesmo tempo, a adoção do horário de verão é uma forma de combater o aquecimento global (agora os bandidos viraram mocinhos).
Ixi, agora o ursinho está em perigo? Que horror!
Consequentemente (pela lógica do aquário),quem é contra o horário de verão são os preguiçosos que preferem que o mundo sofra um aquecimento global por conta (e aqui os mocinhos viraram bandidos).
Lógica do Aquário em Ação!
É... não parece mais tão óbvio assim, não é mesmo? Portanto: cuidado com os simplismos!

Infantilização do Debate

Saiu hoje no Correio Braziliense um artigo de opinião sobre a questão da descriminalização das drogas.

E depois de ler o mesmo posso concordar em um ponto: "Lamentavelmente, qualquer proposta nessa última direção tem sido vista como leviana, o que gera um sectarismo paralisante: de um lado, colocam-se os autoproclamados missionários do bem; de outro, os acusados de serem propagadores do mal. Quanto simplismo!"

No artigo, esta frase tem outro viés, mas revela uma característica importante: o debate infantilizado.
Nelson Rodrigues diria uma ou duas coisas sobre isso.
Sim, quando o leitor vê um debate em que os personagens encarnam bem versus mal, ou mocinhos versus bandido, estará provavelmente vendo um debate que foi simplificado ao tal ponto que virou estória para crianças. A simplificação ocorre quando o problema que se quer discutir é reduzido a pontos em que se permitam tomar decisões do tipo certo ou errado.
Exemplo de simplismo: Este #@%$ é mau e essa foto é a prova cabal!
Naturalmente, tudo é muito mais complicado.
Ixi! Imaginou que deu nó na cabeça de muita gente agora!
Ainda assim esta simplificação do debate é muito comum mesmo. Posso citar alguns debates importantes que são frequentemente infantilizados: drogas, aborto, pena de morte, penas perpétuas, público versus privado, e etc...
Há um oceano de conexões e efeitos que o simplismo não mostra.
Os argumentos são um primor: o fim da proibição irá acabar com o tráfico (meia verdade - contrabando sempre vai existir, vide drogas legalizadas), devemos proibir pois faz mal para saúde (meia verdade - há um número enorme de produtos que fazem mal para saúde e não são proibidos), devemos liberar pois outros produtos (meia verdade - não é porque um produto X é liberado que um produto Y também deva ser liberado), devemos liberar pois não conseguimos controlar as organizações criminosas (meia verdade - o problema aí é o produto ou as organizações criminosas?), devemos liberar pois há pessoas que usam estes produtos segundo sua religião (meia verdade - isto justifica para estas pessoas, mas e as demais?), devemos liberar pois há aplicações médicas de tais produtos (meia verdade - de novo, isto justifica para algumas pessoas, mas e as demais?).
Não é exatamente um exercício sério para o Tico e o Teco
E assim vai: debate infantilizado cheio de meias verdades, tentando desesperadamente "criar mocinhos e bandidos".
Zorro: bandido para os espanhóis e mocinho para os americanos!
A lição importante aqui não é que o debate precisa ser infantilizado para que as pessoas compreendam. A lição é que mesmo em temas complicados, as pessoas (e o leitor) devem compreender que há muitas questões envolvidas no debate, e que definir cursos de ação pode depender de situações específicas. Talvez penas de morte sejam soluções socialmente aceitáveis sob determinadas circunstâncias, talvez o aborto também, talvez a liberação de drogas, talvez a proibição de drogas... E assim vai.
E a zona de cinza é muito maior que as zonas de preto e branco combinadas.
O importante é que o leitor compreenda que o tema não pode ser reduzido a personagens de desenho animado. O importante é que só depois de compreender isto é que o leitor deve formar sua opinião.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Vandalismo ou Protesto?

O boneco do Tatu Bola na esplanada foi esfaqueado.

Por que?

Por quem?

Bem, vamos a resposta:

Os protestantes/vândalos deixaram também um texto.

Invasões Bárbaras

Vândalos invadiram a esplanada; bárbaros estrangeiros enfiando guela abaixo sete metros de material sintético vestindo o brasão das potências estrangeiras. Seguranças protegem o Tatu Cola, estandarte do exército inimigo, mas o verdadeiro tatu bola, sem segurança, continua em extinção.
A morte do Tatu Cola na Esplanada dos Ministérios não foi um ato de vandalismo nem um protesto contra a Coca Cola em si, muito menos contra os nomes estúpidos sugeridos para o infame boneco, como foi veiculado pela grande mídia. É claro que essa mídia corporativa, que recebe verba das grandes empresas e sobretudo o GDF, não iria refletir sobre o ato que na verdade foi uma expressão de repúdio aos grandes opressores e oportunistas que estão por trás do evento da Copa do Mundo no Brasil.
Pra quem é feita a copa? Os ingressos caros apenas poderão ser adquiridos por uma minoria rica (o fim da meia entrada já exclui os incômodos estudantes); o acarejé, Patrimônio Imaterial da cultura brasileira, não poderá ser comercializado pelas tradicionais baianas nas imediações dos estádios, pois lá só os patrocinadores oficiais da FIFA (Coca Cola e McDonalds) terão primazia para matar a fome de gols dos entusiasmados compatriotas.
Nas cidades sedes a população pobre é despejada violentamente das proximidades dos estádios. Em Brasília foram investidos 3 trilhões de reais nas obras de infraestrutura do mega evento, enquanto um Zé Ninguém espera semanas com o corpo cheio de fraturas expostas para uma cirurgia nos hospitais públicos. Os trabalhadores usam o pior transporte público do país para morrerem anônimos em obras superfaturadas. O país inteiro ainda clama por verbas para ter uma educação decente e este evento e seus patrocinadores ignoram as necessidades básicas da esmagadora maioria da população.
Por isso a “morte” do Tatu Cola não é um ato de vandalismo é uma resposta a todo cinismo, corrupção e violência que os verdadeiros vândalos das grandes empresas e do governo impõe, com ajuda da mídia, às vozes dissonantes.
Será que as crianças querem olhar o buraco de um tatu de plástico? Aplaudir um jogo comprado que sustenta a destruição dos nossos patrimônios naturais e culturais? Nós queremos futebol, mas queremos que o esporte seja a afirmação das nossas riquezas, a alegria do POVO, e não meio de enriquecimento ilícito de poucos e arma alienação em massa.


Minha opinião? Vandalismo mesmo. Apenas disfarçado de adolescentismo revoltista revolucionaróide.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Moendo Café com Soul Bossa Nova

Hoje trago uma música das antigas: Moliendo Café.

E aproveito também com outra de um gênero bem diferente: Soul Bossa Nova.

Também conhecida como a música do Austin Powers.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Polichinelo Lógico

Mais uma vez vejo uma daquelas mentiras que as pessoas contam tentando jogar fumaça no palco do julgamento do STF. A mentira da vez é a seguinte: É injusta a condenação do mensalão do PT já que a privataria tucana não está também em julgamento!
Mais ou menos como torcida de time de futebol.
Como sou professor posso fazer uma analogia: imagine que eu pego um aluno "colando" e o mesmo reclama da injustiça, pois eu não peguei os outros colegas dele também "colando".
Acreditem é bem comum.
Parece mesmo injusto, não?
Mas bem comum mesmo...
Parece, mas notem o seguinte: o fato de outros alunos estarem "colando" não justifica o fato do aluno apanhado estar "colando". Mais ainda: a injustiça é não ter apanhado os colegas do mesmo, e não do dito cujo ter sido apanhado. Mais ainda: pegando ou não outros colando não minimiza em nada o fato que o aluno em questão  estivesse colando.
Este não é o tipo mais comum de cola em sala de aula.
Em suma: não apanhar os demais "meliantes" não é desculpa, justificativa, ou mesmo atenuante para a cola do aluno em questão.

Mas, por que ele usa isso como desculpa?

Aí tem que entender um pouco sobre o que o autor do ato está tentando fazer. Ele está tentando escapar, ou pelo menos minimizar a sua possível punição. E olhe que eu digo que quem cola está enganando a si mesmo, mas aí é outra história...

O que ele está fazendo é um processo de transferência de culpa. Se ele for bem sucedido, pode ser até que escape. O processo funciona da seguinte maneira:

  1. Todo mundo faz - ele afirma que não era o único colando, portanto seu comportamento seria "justificável", ou pelo "menos socialmente comum".
  2. Foi uma injustiça - ele indiretamente indica que o professor não cumpriu seu dever em coibir a cola já que outros "colaram" e escaparam impunes.

Olha, posso dizer de experiência própria que é muito fácil cair nestas armadilhas...

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A dado B e B dado A

Eu já discorri diversas vezes sobre uma falácia comum de tomar o efeito pelas causas. Ela é muito utilizada nas mais diversas argumentações contra e a favor dos mais diversos tópicos.

Este post é para ajudar o claro leitor a identificar quando isto esta sendo usado.

Uma forma matemática de definir este problema é através de probabilidade, e mais especificamente através da probabilidade condicional. Vamos ver como usar esta ferramenta.

Primeiro, a probabilidade de um evento A ocorrer é designada como p(A). Vamos a um exemplo primeiro: qual é a chance de um bebê nascer menina? Há duas possibilidades: menino (h) e menina (m). Para saber qual é chance de o bebê nascer menino p(h) temos de dividir o número de bebês meninos Nh pelo universo total de bebês (meninos Nh e meninas Nm). Em termos matemáticos:

p(h) = Nh/(Nh+Nm)

Naturalmente, isto quer dizer que a chance do bebê nascer menina p(m) será:

p(m) = Nm/(Nh+Nm)

O leitor pode notar que a soma das probabilidades é necessariamente:

p(h)+p(m) = Nh/(Nh+Nm) + Nm/(Nh+Nm) =(Nh+Nm)/(Nh+Nm) = 1

Isto, matematicamente, quer dizer que estamos cobrindo todos os eventos possíveis. Daqui podemos obter várias identidades da teoria de probabilidades, mas isto é outra história. Já a probabilidade condicional implica em um relacionamento entre a chance de um evento A ocorrer dada a ocorrência de um evento B (indicado por p(A|B)).  Vamos então a um exemplo: Em uma classe 25% dos alunos passaram nos dois testes aplicados. No segundo teste 75% passaram. Qual a porcentagem de alunos que passaram no primeiro teste também passaram no segundo teste? Vamos dar nome aos bois primeiro:

P(Passaram Teste 1 e Passaram Teste 2) = 0.25
P(Passaram Teste 2) = 0.75
P(Passaram Teste 2 dado que Passaram Teste 1) é o que queremos saber.
Diagrama de Venn.
O que queremos saber é P(Passaram Teste 2 dado que passaram Teste 1)? Este problema pode ser resolvido pela fórmula de Bayes:

P(Passaram Teste 1 e Passaram Teste 2) = P(Passaram Teste 2)*P(Passaram Teste 2 dado que Passaram Teste 1).

Logo:

0.25=0.75*P(Passaram Teste 2 dado que Passaram Teste 1), ou seja, P(Passaram Teste 2 dado que Passaram Teste 1) = 1/3 =(0.3333...).

Matematicamente, podemos dizer o seguinte: estamos relacionando o número dos que passaram no Teste 1, com o número dos que passaram no teste 2, com o número total de alunos, e com o número de alunos que passaram nos testes 1 e 2.

Muito bem, e o que isso tem a ver com a falácia de tomar as causas pelo efeito? Bem, esta falácia é essencialmente confundir p(A|B) com p(B|A). Apesar de parecerem iguais, os dois podem ser bastante diferentes. Um exemplo clássico: p(bandido | pobre) com p(pobre | bandido). Quão diferentes os dois podem ser?

Bem, p(bandido | pobre) é a razão do número de pessoas que são bandidas em uma população de pobres. Matematicamente é isso: a população de pobres (Np) é composta por dois tipos de pessoas, as que são bandidas (Npb) e as que não são bandidas (Npnb). Como a população é composta destes dois elementos então: Np=Npb+Npnb. O que estamos calculando p(bandido | pobre) é:

p(bandido | pobre) = Npb/Np = Npb/(Npb+Npnb)

p(pobre | bandido) é a razão do número de pessoas pobres em uma população de bandidos. Matematicamente é isso: a população de bandidos (Nb) é composta por dos tipos de pessoas, as que são pobres (Nbp) e as que não são pobres (Nbnp). Como a população é composta destes dois elementos então: Nb=Nbp+Nbnp. O que estamos calculando p(pobre | bandido) é:

p(pobre | bandido) = Nbp/Nb = Nbp/(Nbp+Nbnp)*

Note que apesar do numerador ser o mesmo se o conjunto for toda a população (Npb=Nbp), o denominador não necessariamente é o mesmo, e isto faz com que as probabilidade não sejam necessariamente iguais. Elas podem até ser iguais, mas este é o caso particular, e não o geral.

E é aí que a falácia ocorre. Ao julgarmos p(filha da p. | característica X), consideramos isto igual a p(característica X | filha da p.). Não é...

Mas, um aviso é importante: apesar de soar como, isto não é necessariamente preconceito. Nosso funcionamento é assim, usamos este tipo de racionalidade é o que fazemos ao identificarmos padrões. O mais importante é entendermos que fazemos isto naturalmente, mesmo que isso seja falacioso.

* Agradeço ao leitor que corrigiu meu erro! Muito obrigado!

sábado, 13 de outubro de 2012

Raízes

Uma série muito boa dos anos 70 foi Raizes.

A série contava a história do ancestral do escritor Alex Haley: Kunta Kinte.

Infelizmente, não tive oportunidade de ler o livro original.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Foi o Crime, Estúpido!

Li neste dia das crianças uma coluna da Barbara Gancia intitulada: Bem x Mal.
Eu gostava dos artigos dela, mas acho que o tempo passou...
E fiquei, mais uma vez, triste em ver como, mais uma vez, pessoas que eu costumava ler com gosto entraram em uma "viajem intileqtuau" para salvar os condenados do julgamento do mensalão. Neste lamentável exemplo de "não entender p.n" do que ocorre, temos algumas pérolas que precisam ser analisadas.
E já que não faz sentido, então a colunista resolveu inventar um sentido!
Vamos aos pontos do texto:
Os cornos de José Dirceu?
É claro que quem tem culpa que pague o que deve. E eu também, co­mo todo o resto do Ocidente (excluindo talvez o Suriname, Cuba e a Cristina Kirchner --que deve sentir coisas por ele), não vou com os cornos do Zé Dirceu. O homem escondeu a pró­pria identidade da mulher, vive de amassos com os Castro, não é exatamente exemplo de democrata e blá-blá-blá-blá-blá.
O ponto aqui é não gostar ou não do José Dirceu, mas se ele fez o malfeito ou não. Não é torcida de futebol, é a questão é de culpa ou não. Ou em outras palavras: Foi o crime, estúpido!
Imagine só se foi exagero da colunista?
Acontece que não consigo disso­ciar a imagem de Joaquim Barbosa de Torquemada e o julgamento do mensalão da Inquisição. Estamos assistindo a um massacre e há mui­to ainda a considerar.
Mais uma vez, não tem nada a ver com torcida de futebol. A questão é absolutamente outra. Suspeito que a colunista esteja associando a atuação do juiz com a imagem de um fortão humilhando fraquinhos - o que não é o caso.

As profecias deles são famosas, embora um bocado erradas.
Diziam que o julgamento seria parcial porque Lula havia escolhi­do os juízes. Não aconteceu. Aliás, essa desconfiança preconceituosa me faz lembrar o terceiro mandato de Lula, que não houve.
Enunciavam também que o men­salão ia dar a vitória a Russomanno em primeiro turno. Não aconteceu. Por sinal, a economia nem vai tão bem e Haddad lidera as pesquisas.
E Lula, ora, Lula foi o grande ven­cedor do primeiro turno (tadinha da Martoca) e vai levar São Paulo de enxurrada, né não?

Muito, bem, mas é daí? O que isso tem a ver com o julgamento do mensalão? Aliás quem disse isso? Os maias?
Talvez seja da nossa cultura: ignorância com opinionismo!
Fica claro tam­bém que a classe média alta que se diz informada, mas que raramente acaba obtendo colocação profissio­nal fora do âmbito familiar, quer ver o PT ser varrido do mapa. Essa é a turma que torce como nunca no Fla-Flu do julgamento do STF.
Nos últimos tempos, até a Dilma eles têm tratado com um desdém que antes não havia ali. Já para o zé povinho, tanto faz. Para a perifa, obviamente não só despida de pre­conceito contra o Lula como iden­tificada com ele até a alma e beneficiada pelas mudanças sociais, escândalo de compra de votos da reeleição, anões do Con­gresso, Sivam, Zé Dirceu, Collor... é tudo a mesma lasanha.

Dá para sentir o veneno escorrendo em cada letra (classe média alta, raramente obtendo colocação profissional fora do âmbito familiar, torce no Fla-Flu do STF...). O julgamento reflete sim no PT, mas por causa do malfeito em si, e na pseudo imagem de partido limpo que o PT tenta ainda manter de qualquer modo. De novo, foi o crime, estúpido!
As faces da Inocência e da Culpa? Ou simplesmente dois camaradas que abusaram do seu poder?
Eu até concordo que a gente quei­ra ver canalhas ricos o bastante pa­ra contratar advogados top na ca­deia. Mas, vem cá: o Genoino, gen­te? Todo mundo conhece o Genoi­no, sabe que ele não vive no luxo. E não merece o que está acontecen­do.
Nesta semana vi gente com san­gue nos olhos dizendo que queria vê-lo atrás das grades. Isso não po­de ser sede de justiça. É outra coisa. É preconceito puro. E olha que o Muro de Berlim já caiu há mais de 20 anos!

Mais uma vez: e daí? É perfeitamente normal condenar José Dirceu dado que ele cometeu um ato ilícito, mas é um absurdo condenar José Genoíno dado que ele cometeu um ato ilícito? O preconceito aqui é da colunista: penalidades infinitas a quem não se gosta, não importando inocência ou culpa, e perdão infinito a quem se gosta, não importando inocência ou culpa. Pergunto: isso é justiça?
Perceba, caro leitor: segundo a colunista esta capa é uma deturpação muito danosa ao país!
É uma deturpação das mais dano­sas ao país colocar na capa da maior revista semanal tapuia uma crian­ça negra e pobre que subiu na vida pelo próprio esforço como se ela fosse o novo Pelé.
É como se a classe dominante dissesse: "Os nossos pretos pobres são melhores do que os deles". Os negros pobres do Lula precisam do Bolsa Família e de cotas para chegar lá. Joaquim Barbosa (que, note, se declara eleitor do PT) venceu sozinho, não precisou de "política assistencialista", não é mesmo? Pessoal ainda não enten­deu que não é muleta, mas repara­ção por séculos de apartheid social.

Notem que tudo isso está na cabeça da colunista. E daí que a maior revista coloque a foto de Joaquim Barbosa? O mensalão não é notícia? A condenação de políticos e empresários neste esquema de corrupção não é histórica? O artífice mor dessa condenação não esta sendo justamente Joaquim Barbosa? Sei não viu, mas senti um cheirinho de preconceito nisso...
Não, cara colunista. O sentimento é de fim da impunidade mesmo...
Seria lição de democracia se do julgamento do STF constassem não só PT, mas PSDB, DEM etc. Julgar ignorando garantias, sem direito a recurso e partindo da cer­teza de que quanto menos provas, maior o poder do réu e, portanto, hipoteticamente, maior sua culpa, é inver­ter a lógica. Isso não pode ser coisa boa, viu, "Times" de Londres?
Muito provavelmente, a colunista não leu as 50 mil páginas da AP-470. Portanto TUDO ISSO QUE ELA ESCREVEU ACIMA É OPINIÃO SEM NENHUM EMBASAMENTO. A colunista poderia muito bem estar falando sobre as emoções das plantas, ou coisa que valha.
Apenas uma alegoria...
Conclusão? Temos aqui apenas uma peça de opinião. E mais opinião com preconceitos, com suposições e ignorância. Pura e simples....

Mas engraçado mesmo é a reação do PT aos pensamentos de Barbara Gancia - ontem e hoje.