sábado, 31 de março de 2012

Pequenas Pérolas do Cinema - 53

Seguindo a sugestão, hoje é dia de Soylent Green.

O filme é baseado no livro Make Room! Make Room sobre os efeitos da superpopulação. O filme trata da questão da falta de recursos devido à superpopulação (uma preocupação em 1970 e voltando a carga nos dias de hoje). A frase famosa do filme está bem no final.

No caso, o filme foca em alguns dos efeitos da superpopulação, mas se concentra na questão da comida. Para as massas só existe o alimento sintetizado Soylent Green. E este supostamente seria feito de Plankton. Mas um assassinato acaba por ameaçar o segredo de fabricação de Soylent Green.

Hoje o bordão "Soylent Green is People" já está incorporado à cultura popular (ou pelo menos a cultura nerd).

sexta-feira, 30 de março de 2012

Misquotes

Com o falecimento de Millor Fernandes me veio a mente um ponto curioso. Já notaram quantas citações de pessoas famosas que aparecem diariamente por aí?

Já notaram quantas delas não são da pessoa a quem são normalmente atribuídas? Há quem diga que se Einstein tivesse dito todas as frases que lhe atribuem, ele não teria criado a teoria da relatividade.

No caso de Millor, já pude identificar algumas citações que possivelmente são apócrifas.

Por que isso acontece? Hummm... é difícil precisar. Há a confusão genuína de não se conseguir determinar o autor da frase em questão, mas há também situações aonde o autor prefere que sua frase seja atribuída a outro. No segundo caso, temos claramente um indício que não analisamos somente a mensagem, mas também o mensageiro.

De qualquer modo, vamos a algumas citações famosas que são atribuídas às pessoas erradas.
  • "Eu não concordo com uma palavra do que você diz, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las"- atribuída a Voltaire, mas na realidade a frase é de Evelyn Beatrice Hall (não soa mais tão impressionante, não é? Mas fique tranquilo: muita gente também se enganou.)
  • "Os donos do capital incentivarão a classe trabalhadora a adquirir, cada vez mais, bens caros, casas e tecnologia, impulsionando-a cada vez mais ao caro endividamento, até que sua dívida se torne insuportável." - atribuída a Marx, mas na realidade bem mais contemporânea.
  • "O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. E o comunismo é exatamente o contrário." - atribuída a Millor Fernandes, mas é na realidade bem mais antiga.
  • "Bons artistas copiam, grandes artistas roubam" - atribuída a Pablo Picasso, mas na realidade de T.S. Elliot.
No fundo, usar uma citação é uma espécie de apelo a autoridade. Mas também funciona como uma forma sutil de sumarizar algo que concordamos

Nada de errado nisso.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Casa Sempre Ganha

Uma de minhas séries favoritas é House. No fundo, o show é um drama de mistério não muito diferentes dos de Sherlock Holmes. Mas com a diferença de ao invés de descobrir quem é o culpado, o programa gira em torno de descobrir qual é a doença.

Não vou entrar aqui na série em si (vou deixar isso para um futuro post), mas vou me deter na questão de um elemento central do show: o diagnóstico.

No show, o paciente apresenta sintomas que são inicialmente tratados baseados em uma suposição sobre qual é a doença. Quando esta suposição não se prova verdadeira, novos sintomas surgem e o ciclo continua até que House (ou um dos seus colegas) tenha informação suficiente para saber qual é a doença.

E isto é fascinante. Digo isso não só pela forma como isso é explorado no programa, mas também pelo conceito de refino da probabilidade através de testes sucessivos. Suspeito que isso pode ser aplicado em muitas outras áreas.

E naturalmente há estudos sobre isso (há estudos sobre coisas que a maioria das pessoas sequer imagina).

Isso me fez pensar a respeito de construir exemplos de como o diagnóstico pode ser aplicado. Para tanto vamos restringir a um caso simples inicialmente. Temos 4 doenças (D1, D2, D3, D4). Cada uma destas doenças tem um conjunto de sintomas associados:

D1 - {S11, S12, S13, S14}
D2 - {S21, S22, S23, S24}
D3 - {S31, S32, S33, S34}
D4 - {S41, S42, S43, S44}

Bem se todos os sintomas são únicos a cada uma das doenças, então basta verificar um único sintoma e bada-bing, descobre-se a doença. Mas vamos complicar um pouco mais: vamos dizer que as doenças em sintomas em comum e que na realidade é a combinação de sintomas que define a doença.

D1 - {S11, S12, S13, S14}
D2 - {S11, S12, S23, S24}
D3 - {S11, S32, S33, S24}
D4 - {S11, S42, S23, S44}

Assim, D1 e D2 tem 2 sintomas em comum, D1 e D3 tem 1 sintoma em comum e D1 e D4 tem 1 sintoma em comum. Se o sintoma S11 for o primeiro a se apresentar, então o médico terá D1, D2, D3 e D4 como possíveis candidatos a doença em questão.

Mas ao surgir um novo sintoma, pode-se reduzir o universo de doenças possíveis. Se o sintoma S12 surgir, então o médico saberá que a doença pode ser D1 ou D2. Se o sintoma S23 surgir, então o médico saberá que a doença pode ser D2 ou D4 e se o sintoma S24 surgir então a doença estará entre D2 e D3.

Pode-se argumentar que o diagnóstico passa por submeter o paciente a sucessivos testes para determinar qual é a sua doença. No caso acima o número mínimo de testes para identificar a doença com 100% de certeza é 3.
O paciente tem S11. Testa-se o paciente para ver se ele tem S12. Caso positivo então testa-se para se ele tem S13 para determinar se é D1 ou D2. Caso negativo então testa-se para ver se ele tem S32 (caso o resultado for positivo então ele tem D3 caso negativo então é D4).

No caso, o problema de determinar a doença nada mais é o problema de realizar o mínimo de testes para determinar inequivocamente qual linha de uma matriz de diagnóstico {Presença x Sintoma} se procura.

Mas pode-se complicar ainda mais com sintomas que estão presentes em um percentual de doenças mais não em outros (e nos aproximarmos da realidade). Vamos dizer agora que os sintomas são somente S11, S12, S13 e S14. Mas as doenças D1, D2, D3 e D4 tem frequências diferentes para estes sintomas. Vamos dizer que em D1 de cada 100 casos, 20 apresentam S11, 90 apresentam S12, 10 apresentam S13 e 50 apresentam S14. Podemos representar isso por:

D1 - {S11, S12, S13, S14} - (0.2, 0.9, 0.1, 0.5)

Podemos fazer o mesmo para as outras doenças

D2 - {S11, S12, S23, S24} - (0.3, 0.3, 0.3, 0.8)
D3 - {S11, S32, S33, S24} - (0.5, 0.5, 0.7, 0.9)
D4 - {S11, S42, S23, S44} - (0.4, 0.2, 0.6, 0.8)

Então como proceder neste caso? Bem, se os sintomas fossem independentes então seria fácil. Era só multiplicar todas os números e colocar um score de mais provável para menos provável. Mas frequentemente não existe essa independência. Dizer que de cada 100 casos, 20 apresentam S11 e 90 apresentam S12 não me diz nada sobre o número de casos que apresentam S11 e S12. Da mesma forma, os demais sintomas também podem ter alguma correlação.

Para expressar isso é necessária uma matriz que ligue os demais sintomas. Por exemplo:
  • De cada 10 pessoas que possuem o sintoma S11, 9 possuem S12, 7 possuem o sintoma S13 e 5 possuem o sintoma S14.
  • De cada 10 pessoas que possuem o sintoma S12, 5 possuem o sintoma S11, 8 possuem o sintoma S13 e 7 possuem o sintoma S14
  • De cada 10 pessoas que possuem o sintoma S13, 9 possuem o sintoma S11, 8 possuem o sintoma S12 e 7 possuem o sintoma S14
  • De cada 10 pessoas que possuem o sintoma S14, 6 possuem o sintoma S11, 7 possuem o sintoma S12 e 4 possuem o sintoma S13
Note que isto é diferente de expressar o problema em termo do número de casos que tem D1 e apresentam o sintoma S11, S12, S13 e S14. O que estamos dizendo aqui é Dado que nos 10 casos que o sintoma S11 apareceu, o sintoma S12 apareceu em 9 deles (P(S12|S11) = 0.9).

Este tipo de relacionamento, em conjunto com o Teorema de Bayes permite determinar qual a doença (D1, D2, D3 e D4) é a mais provável. Como? Bem, o que informamos anteriormente é dado a doença D1, qual é a probabilidade de aparecer o sintoma S11 (0.2). Ou seja informamos P(S11|D1)=0.2 (Isto é normalmente diferente do que desejamos saber: qual é a probabilidade de D1 dado S11 (P(D1|S11)?

Na realidade queremos saber P(D1| S11 e S12 e S13 e S14)!

Como dá para ver, mesmo com um conjunto limitado de 4 doenças, o problema se torna complicado rapidamente. Fazer isto de cabeça só mesmo para House.

Aliás o título deste post é uma tradução (meia-boca) do trocadilho House always wins.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Homenagem ao Poeta-Filósofo

Millor Fernandes se foi. Deixou o mundo. Sentiremos saudades.

Quem melhor para falar sobre ele, do que ele mesmo?

Deixo aqui um poema.

Muito Cuidado: Trocar os Fatos Pode Matar

Não pude resistir! Procurando sobre a questão da fome na internet cheguei por acaso a este texto. E ele é apenas mais um na linhagem dos textos que não se importam em distorcer a realidade para avançar uma agenda qualquer.

A parte que me chamou a atenção foi esta:
Este ano há 900 milhões de seres humanos a passar fome, seis décadas depois da criação da FAO. Em Outubro de 1945, quando a FAO foi criada, havia 80 milhões. Para que serviu a FAO? 
Opa, opa, opa! 80 milhões em 1945? De onde tiraram este número?

Vamos voltar a este ponto em breve...

O texto se baseia nisso para atacar a FAO, Monsanto, e demais capitalistas malvados. E se vale desse número para afirmar que a revolução verde foi um fracasso!

Bem, ela foi um sucesso. Quem tiver acesso ao livro The Population Bomb pode ver que a situação mudou muito, e mudou para melhor. Mas há espaço para críticas sim...

Você já parou para pensar como se mede a fome no mundo? A pergunta é delicada, já que o que se mede nas estatísticas da FAO é justamente a subnutrição. Segundo este indicador a situação é a seguinte:



World



Number and percentage of undernourished persons
2006-2008850million (13%)
2000-2002836million (14%)
1995-1997792million (14%)
1990-1992848million (16%)
1979-1981853million (21%)
1969-1971878million (26%)


Muito bem, e percentualmente, o que isto significa? Bom, apesar do número de subnutridos ter variado pouco de 1969 até 2008, o valor percentual caiu de 37% para 16%, ou 26% para 13% (segundo a tabela acima).

Mas tanta incerteza assim? O problema é que quantificar este número é complicado, e mesmo relatórios da própria FAO podem conter números conflitantes.

Então o que sabemos? Na realidade não muito. Sabemos que há fome no mundo, mas não sabemos exatamente quanta. Certamente também não ajuda misturar o pouco que achamos que sabemos e passar como verdade. (1 pessoa morre de fome a cada 3.6 segundos versus 15 milhões de crianças morrem de fome por ano -são números diferentes, crianças não são pessoas?).

Infelizmente, as únicas estatísticas com um pouco de confiabilidade são as de mortalidade infantil antes dos 5 anos. Segundo a própria FAO, cerca de 60% destas mortes são causadas por subnutrição. De 1990 até 2010, este número caiu de 7.44 milhões para 4.56 milhões. Em termos de taxa:
Em termos numéricos:
Assumindo uma taxa de natalidade mundial de 37 por mil em 1950, temos cerca de 74 milhões de nascimentos. Até 1955 serão 370 milhões de crianças. Com uma taxa de mortalidade infantil de 0.159 (159 por mil) temos 58 milhões (tirando os 60% disso temos os 35 milhões de mortos devido a fome).

E então volto a afirmação dos 80 milhões de famintos em 1945. Com esta estimativa de 35 milhões de crianças mortas devido a fome de 1950-1955, leva a imaginar que os 80 milhões que o texto fala são de mortos por causa da fome. E os 900 milhões que o texto fala estão vivos.

Ou seja, todos os sinais de desonestidade intelectual da braba.

terça-feira, 27 de março de 2012

Pensando Bem...

Veja esta sequência de vídeos de Richard Feynman. Ele foi um físico que trabalhou no projeto Manhattan, ganhou o prêmio Nobel e certamente é muito, muito  inteligente. Mas devo deixar claro que ele também é media savvy (inteligência comunicacional?).

Vale a pena prestar atenção nas perguntas que ele faz, pois geralmente são perguntas aparentemente simples, porém fundamentais.

Por que estou colocando tudo aqui? Acredito que a sequência é interessante e certamente estou facilitando o trabalho de quem está interessado em ver o programa completo.

E aqui temos a última parte que está legendada com uma interessante conversa sobre "o porquê".

Há muito mais de Feynman na internet, e ele realmente é muito bom em usar exemplos para explicações. Veja o que ele diz sobre uma das principais causas do acidente da Challenger.

Não é toda história, mas é um bom pedaço dela.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Coisas que Mentimos para Nós Mesmos - 18

Ah, o ciberativismo! Tão belo, tão puro, tão cheio de boas intenções!

Tão inacreditavelmente míope e potencialmente destrutivo!

Eis aqui o futuro do ciberativismo: Kony 2012.

Pois bem, o filme conta as ações de Joseph Kony em Uganda e pede auxílio, na forma de aumento de visibilidade, para leva-lo a justiça. O documentário conta como a guerrilha de Kony cometeu atrocidades e destruiu a vida de possivelmente milhares de pessoas. Ora, veja uma entrevista com ele:

Mas naturalmente a coisa não é tão simples assim. Na verdade a coisa nunca é simples:

Então, quem está com a razão? Bem, Kony parece ter cometido atrocidades em Uganda. E além disso há mandado de prisão contra Kony pelo ICC. Então uma campanha para sua prisão não é exatamente mal-vinda. E, diferente do que as teorias de conspiração dizem sobre o vídeo, a prisão de Joseph Kony é suportada por um pedido legal do ICC. Mas há muitos pontos errados ou simplesmente exagerados no vídeo.

A despeito destas questões, ainda é perfeitamente razoável concordar que Kony deveria pelo menos ter seu momento na corte do ICC. Mas fica a pergunta: será que o modo que esta sendo proposto vai resolver o problema? Bem, aí mora o busílis:
  • Para começar os Estados Unidos não são signatários do ICC. Por que? Bem, aí as explicações variam.
  • Capturar Kony pela intervenção dos Estados Unidos pode levar a invasão de um país estrangeiro. Kony não está mais em Uganda. Uma intervenção pode acabar levando a desestabilização do governo de Uganda, da República Centro-Africana, ou de ambos.
  • Capturar Kony não vai necessariamente resolver o problema. Quem teve curiosidade de dar uma olhada no link do mandado de prisão contra Kony vai ver que ele não é o único..
  • Os próprios Ugandenses não estão nada satisfeitos com o tom e as sugestões da campanha. Eles reagiram de modo um tanto quanto violento ao ver o vídeo da campanha. Veja você mesmo:

Bem, vendo isso fica a dúvida se a campanha Kony 2012 é a coisa certa a se fazer, ou pelo menos a coisa certa a se apoiar. Afinal, se os próprios Ugandenses não estão satisfeitos com ela, então como pode ser a atitude certa a se tomar?

Se você está confuso, incerto e não saber como responder a isto, eu digo: bem vindo a maturidade! Esse negócio de resposta certa é coisa de teste de escola. O mundo real não tem um gabarito certo/errado de como agir.

Qualquer decisão tem consequências, mesmo que toda boa intenção do mundo o levou a tomar determinada decisão, não existem garantias que os resultados serão positivos (existem chances, mas nada quanto a garantias).

Este é o mundo em que você vive:
  • Se você escolher apoiar a campanha Kony 2012, pode ser que você seja co-responsável por uma grande melhoria na vida de todos naquela região. Mas também pode ser que você se torne co-responsável por uma tragédia futura ainda maior.
  • No entanto, se você escolher não apoiar a campanha Kony 2012, pode ser que você seja co-responsável por uma grande melhoria na vida de todos naquela região. Mas também pode ser que você se torne co-responsável por uma tragédia futura ainda maior.
Viu? Não tem respostas certas... Não há certezas, mas probabilidades...

Post Scriptum: o comportamento do criador da campanha não deve influir em sua decisão. O importante é a mensagem e não o mensageiro.

domingo, 25 de março de 2012

Chico City

Com o falecimento de Chico Anysio, eu acredito que nada é mais justo do que colocar aqui uma pérola da televisão brasileira: Chico City
É interessante ver como a abertura e a música mudou ao longo do tempo

A galeria de personagens é enorme. Dou destaque ao Pantaleão, que ficou famoso com o bordão "É mentira, Terta?"
Um quadro que continuou até hoje era a escolinha do professor Raimundo
Tinha o Popó.
Outro personagem famosíssimo e ainda atual é o deputado Justo Veríssimo (que só iria aparecer bem depois)
Deixo por fim, duas homenagens ao grande humorista. Uma das primeiras aparições stand up

Um especial sobre ele

sábado, 24 de março de 2012

Pequenas Pérolas do Cinema - 52

Este é o milésimo post do blog! O filme de hoje é sugestão do Karlos: Inferno na Torre.

O filme conta a história de um incêndio em um prédio de 138 andares no dia de sua inauguração. O prédio foi construído em San Francisco (zona de terremotos? Parece uma escolha meio arriscada) e devido ao sua altura, de quase 550 metros (o prédio mais alto do mundo tem perto de 830 metros).

O filme levou 3 Oscars (sendo 1 deles de melhor música), 2 Globos de Ouro e 2 BAFTAs.

O filme foi baseado em dois livros (The Tower e The Glass Inferno) e misturou personagens destas duas fontes. É possível assisti-lo na internet.

Os efeitos especiais utilizaram miniaturas e pinturas para conseguir o efeito de um prédio destas dimensões em San Francisco.

Em uma trágica coincidência, no mesmo ano do filme, o Brasil teve um incêndio de grandes proporções no edifício Joelma.

O incêndio levou até a realização de um filme: Joelma 23o andar.

Isso porque 2 anos antes ocorreu outro incêndio terrível no edifício Andraus.

No caso do filme Inferno na Torre, o incêndio foi finalmente debelado quando os protagonistas resolvem explodir a caixa d´água do edifício. Naturalmente isto leva a pergunta se com aquela água toda no topo do edifício, se não haveria uma maneira menos destrutiva de apagar o incêndio...

sexta-feira, 23 de março de 2012

Faço o que Eu Digo?

Caro leitor, você já parou para pensar como vários grupos querem controlar sua vida?
  • Alguns querem controlar o que você come,
  • Outros querem controlar como você se diverte,
  • Outros querem controlar como você faz sexo,
  • Outros querem controlar o que deve ser seu entretenimento,
  • Outros querem controlar o quanto você deve ganhar,
  • Outros querem controlar o quanto você deve trabalhar,
  • Outros querem controlar como você se locomove,
  • Outros querem controlar suas decisões,
  • Outros querem simplesmente controlar... toda sua vida!
Pois bem, certamente nem todos que querem controlar aspectos da sua vida desejam o mal para você. Mas todos que desejam controlar aspectos da sua vida acreditam piamente que podem fazer isto melhor do que você.

Este é o grande dilema de viver em sociedade. Ao mesmo tempo que devemos ser harmoniosos e cuidar de todos, existe uma linha aonde cuidar de todos significa controlar a todos.

Na teoria a solução é simples: compromisso de ambas partes. Na prática, a melhor defesa é justamente o ataque - se ele controlar você, você o controla. Neste momento é que se separa quem apenas almeja o poder, de quem realmente quer ajudar.

Por que desta reflexão? Dois motivos...
  1. Na minha universidade (UnB), estamos entrando  em um período conturbado por causa das futuras eleições para reitor. E como toda campanha eleitoral, o objetivo de cada lado é controlar o seu voto (sua decisão). Então, caros leitores, podem se preparar que de vez em quando eu vou levantar algumas lebres por aqui...
  2. O segundo motivo é a patética decisão de controlar a programação de TV por assinatura recentemente. Não apenas uma, mas duas matérias insistem que isso é para o meu próprio bem...
Tenham menos cara de pau, por favor! Vou terminar tendo que instituir algum tipo de premiação.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Urnas Eletrônicas

Com o assunto de pesquisas na cabeça, não posso deixar de comentar algo sobre fraudes em urnas eletrônicas.
  1. É perfeitamente possível fraudar uma urna eletrônica, dado o conhecimento, ferramentas adequadas e condições. É outra coisa completamente diferente fraudar centenas de milhares de urnas eletrônicas. A diferença é entre ir de Brasília à Goiânia, comparado com de Brasília à Marte. Enquanto um é perfeitamente factível com os meios conhecidos, o outro envolve dificuldades extremas
  2. Fraudar alguma coisa tem um custo. Fraudar uma multiplicidade de coisas tem um custo consideravelmente maior. Há uma questão econômica aí.
  3. Fraudar possivelmente levantará discrepâncias dos resultados obtidos com as pesquisas. Quanto maior esta discrepância, mais complicado fica esconder a fraude. Claro que pode ser que alguém argumente que as pesquisas foram compradas, as urnas foram compradas, o TSE foi comprado e a mídia foi comprada - mas aí o uso da Navalha de Occam resulta na inevitável conclusão que o mais lógico é duvidar do acusador.
  4. Há uma série de técnicas, baseadas em amostragem que pode eventualmente complicar qualquer tentativa de fraude. As técnicas não necessariamente impedem, mas tornam visíveis tentativas de fraudes. Uma destas técnicas consiste em votar com pleno conhecimento dos resultados e depois conferir os resultados de votação. Se forem escolhidas aleatoriamente um conjunto de urnas em número suficiente, a fraude fica evidente.
No fundo existe uma probabilidade de fraude. Mas é absolutamente ilusório pensar que um sistema de votação baseado em papel é mais robusto. O contrário é que é verdadeiro...

Mas existem interesses, dúvidas e também a chance de acontecer. Talvez seja por isso que o assunto volte a baila de modo tão recorrente.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Enquetes Online

Com uma breve olhada na teoria que conheço de pesquisa por amostragem, não posso deixar de ter a impressão que pesquisas online ou enquetes online não conseguem representar adequadamente uma população.

Mas ao mesmo tempo, fico imaginando se estudo cuidadoso dos dados enviados não poderia dar pistas da distribuição real. Eu pensei em uma abordagem de dois passos:
  • Amostragem dos dados submetidos - ou seja, após fazer a enquete, o pesquisador seleciona aleatoriamente uma fatia do universo amostral
  • Estratificação dos dados - com as amostras escolhidas, o pesquisador se vale de pesos escolhidos cuidadosamente segundo uma estratificação da população geral e comparação com informações das amostras escolhidas.
Um exemplo: vamos supor um universo de 500.000 submissões online a uma determinada pesquisa. O pesquisador separa aleatoriamente 2500 destas amostras. Nestas amostras, ele aplica a estratificação: como no Brasil 51% da população é mulher, o peso dos votos femininos é de 0.51 (e o peso dos votos masculino é de 0.49).

No caso de um concurso televisivo, primeiro é necessária fazer a estratificação dos votantes para poder estimar pesos adequados. Se a estratificação é a mesma de uma pesquisa online, então os resultados não devem divergir.

A verdade é que estou começando a ficar convencido que pesquisas online podem funcionar, desde que apropriadamente utilizadas. Mas pelo que vejo, também é necessário que haja informação adicional para que pesquisas online funcionem direito.

terça-feira, 20 de março de 2012

Como é o perfil de emprego no Brasil?


Eu sempre tive curiosidade de saber como é o perfil do emprego no Brasil. Por que? Eu já ouvi muito sobre o que move o país e resolvi checar no papel.

Nesta apresentação tive informações sobre a distribuição de empregos no Brasil. O resultado é muito interessante (lembre-se que há diversas variações dependendo do estado).
  1. Serviços - 14.5 milhões - 32%
  2. Administração pública - 9 milhões - 20%
  3. Comércio - 8.5 milhões - 19%
  4. Indústria de transformação - 8 milhões - 18%
  5. Construção civil - 2.5 milhões - 6%
  6. Agropecuária, extrativismo vegetal, caça e pesca - 1.5 milhões - 3%
  7. Serviços industriais de utilidade pública 400 mil - 2%
  8. Extrativa mineral - 200 mil - 1%
Então note que a maioria dos empregos está exatamente no setor de serviço (apesar de ter encontrado um valor curioso em um estudo sobre construção civil). O segundo maior setor empregatício do Brasil é o setor de administração pública (praticamente 1/5 dos empregos no Brasil).

Isto naturalmente leva a questão? E com relação ao PIB, como é participação desse pessoal. Felizmente encontrei uma referência.
  1. Serviços - 67% 
  2. Indústria - 19%
  3. Agricultura - 6%
  4. Construção Civil - 5%
  5. Mineração - 3%
Naturalmente, não dá para associar o PIB com o setor de administração pública (pelo menos não diretamente). No caso desta análise do PIB, o setor de comércio está incluído no chamado PIB de serviços. Se dividirmos o PIB pelo percentual de mão de obra temos o mais R$ por empregado. Então
  1. Mineração - 3/1 = 3
  2. Agricultura - 6/3 = 2
  3. Serviços - 67/(32+19+2)=67/53 = 1.3
  4. Indústria - 19/18 = 1.1
  5. Construção Civil - 5/6 = 0.8
Claro que isso não pode ser usado como um indicador único, mas os dados indicam que aonde se tem maior retorno por empregado é o setor de mineração (extrativista mineral), seguindo da agricultura, de serviço, da indústria e finalmente da construção civil.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Coisas que Mentimos para Nós Mesmos - 17

Nomeie os 3 melhores ministros da educação dos últimos 20 anos!

Não consegue? Vou facilitar dando a lista dos ministros da educação dos últimos 20 anos:
  • Aloizio Mercadante
  • Fernando Haddad
  • Tarso Genro
  • Cristovam Buarque
  • Paulo Renato de Souza
  • Murillo de Avelar Hingel
  • Heraldo Tinoco Melo
  • José Goldemberg
Eu tenho minha lista, mesmo desagradando a gregos e troianos: Paulo Renato de Souza, Fernando Haddad e José Goldemberg. E Goldemberg só entrou na lista por causa da criação da CAPES.

Como eu posso colocar Paulo Renato e Haddad na mesma lista? Pelas ações dos mesmos. Sei que é difícil, caros leitores, mas façam um exercício: vejam o que mudou na educação de 1995-2003 (Paulo Renato) e de 2005-2012 (Haddad). Não é pouca coisa não, o que não podemos dizer dos outros ministros...

Por que esta introdução?

Você já deve ter ouvido o bordão: O Problema do Brasil é a Educação.

Bem, é verdade que a educação é um problema. Mas exatamente qual é o tamanho do problema? Em outras palavras, podemos culpar a educação pelos nossos outros problemas?

Mas antes de mais nada é importante distinguir educação de doutrinação. Quando se diz que o brasileiro não tem consciência de classe, ou que não entende a exploração capitalista, então se estava fazendo uma crítica que o brasileiro não é doutrinado o suficiente (parte da minha crítica com Paulo Freire é que o que é ensinado é uma mistura de doutrinação com educação).

Na minha visão pessoal, educação liberta, enquanto doutrinação aprisiona.

É desnecessário frisar a enorme quantidade de pessoas que não só discordam de mim, como também acham que sou um títere do capitalismo mercantil-financista ianque sionista reacionário internacional. A estes eu só posso dizer:

Bem, então deixando de lado esta questão vamos ao que interesse: qual é o tamanho do problema da educação no Brasil? Bem temos o PISA que permite algumas comparações interessantes:

O desempenho do Brasil é aproximadamente igual ao da Colômbia, mas um pouco superior ao da Argentina, Panamá e Peru. Estamos muito atrás do Chile e do Uruguai. O fato de estarmos um pouco melhor do que nossos vizinhos é relevante. Pode-se até fazer um pequena normalização sobre custos da educação - e nela não ficamos tão ruins. Um quadro mais completo está aqui.

O MEC tabelou os resultados do PISA e com isso permitiu uma comparação razoável da evolução brasileira ano-a-ano.

Quadro comparativo dos resultados do Brasil no PISA desde 2000.
Pisa 2000Pisa 2003Pisa 2006Pisa 2009
Número de alunos
participantes
4.8934.4529.29520.127
Leitura396403393412
Matemática334356370386
Ciências375390390405

Os dados indicam que há uma evolução positiva no desempenho dos alunos (pelo menos nos tópicos de matemática e ciências).

Então o que isso quer dizer? Bom, que estamos melhorando. Mais ainda que: há técnicas e pesquisas que indicam caminhos para que esta melhora seja verdadeiramente implantada. Eu posso não concordar com elas, mas que elas existem, existem...

E posso dizer ainda que em vista do post de sexta-feira (sobre o PISA e o desempenho do Brasil), posso dizer que a federalização e o aumento no financiamento da educação parecem caminhos interessantes (mas que devem ser adotados com cautela).

Vamos então a questão do analfabetismo.
O que se vê é que o analfabetismo vem caindo lentamente, mas caindo. O que se vê é o problema sendo resolvido. Comparativamente aos outros países não estamos bem, mas também nem tão ruim assim.

Mas qual é a lição mais importante?

O problema da educação no Brasil é menor do que se vende nos púlpitos, jornais e discursos. Não é o caso de dizer que o problema não exista, mas não só ele é menor do que dizem, quanto ele vem sendo lentamente resolvido. E não dá para culpar a educação por todos os nossos problemas (dá para culpar alguns apenas).

Mais ainda...

Bem, mudar educação é possível. Mas como as tabelas mostram, não se dá por grandes saltos positivos. O trabalho é o de formiginha mesmo...

E possivelmente o Brasil está na posição que era de se esperar (eu não sou o único com esta opinião)

Um adendo: Cuidado, em muitos casos a crítica confunde educação formal com civilidade - são coisas relacionadas mas não são iguais.

domingo, 18 de março de 2012

Get Smart: o Agente 86

Hoje trago uma boa comédia dos anos 60-70: Get Smart.

O seriado contava as atrapalhadas aventuras do agente 86 do CONTROLE contra a KAOS. O agente, que mete os pés pelas mãos, tem o auxílio da bela agente 99, que por sua vez tem toda competência que o agente 86 não tem.

A série foi criação de Mel Brooks e Buck Henry, e tem como elemento especial de fama uma série de bordões de difícil tradução para o português.
The Craw!

Missed by that much

Would you believe

and loving it

o Cone do Silêncio

A série ainda gerou filmes e especiais. O produto mais recente foi Agente 86 de 2008.

Pode não ser igual ao original, mas definitivamente tem seus momentos

sábado, 17 de março de 2012

Pequenas Pérolas do Cinema - 51

Aproveitando que  o ECAD voltou atrás, trago hoje The Godfather.

Este filme é clássico em tantos sentidos que é até difícil de sumarizar. Temos o drama da sucessão de Rei Lear, temos a tragédia familiar, temos o crime como emprego diário... É muito.

Outra característica interessante é que Michael Corleone é Al Pacino. E este personagem o segui durante toda a sua carreira.

Uma cena que fica na memória é justamente dos assassinatos encomendados por Michael ao mesmo tempo em que ele renega o demônio no batizado do seu sobrinho.

A cena final é ao mesmo tempo triste e reveladora. Temos Michael que por uma série de eventos acabou por se tornar o chefão, e a cena indica o preço que isso irá ter na sua vida.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Uma Falácia com Números

Como já disse em diversos locais neste blog, muitas notícias torturam as estatísticas.

Caso em questão: este artigo. Vou transcrever um pedaço:
Se a maioria dos estudantes brasileiros não consegue ler, fazer cálculos matemáticos e compreender a ciência como a maioria dos jovens de países desenvolvidos como Inglaterra, França, Estados Unidos, Canadá e Japão, há um grupo seleto de alunos do País que consegue até superá-los quando o assunto é o Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa).
As notas do último exame educacional, criado pelos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para verificar a qualidade de ensino nos países desenvolvidos e parceiros, mostram que os estudantes da rede federal de educação básica obtiveram desempenhos tão bons ou até superiores aos de muitos alunos que vivem em países muito desenvolvidos.
Relatório divulgado pela OCDE aponta que a nota em leitura desses estudantes da rede pública federal ficou em 535. A média dos países desenvolvidos na área é de 493 pontos. Em matemática, a situação se repete. Foram 521 pontos obtidos pelos alunos da rede federal contra 495 da OCDE. Em ciências, os brasileiros ficaram com 528 e os desenvolvidos, 500 pontos. A média geral da rede ficou em 528.
Essa média está à frente de países como França, Estados Unidos, Israel, Espanha, Reino Unido, Dinamarca, Alemanha, Austrália e Canadá. Só perde para a o Japão (529 pontos), Coréia (541), Cingapura e Finlândia (543), Hong Kong (546) e Shangai (577). Vale lembrar que a China preferiu não colocar todas as províncias e regiões do país para realizar as provas. Apenas algumas participaram do Pisa.
“É uma rede pequena, mas é a prova de que o setor público sabe oferecer uma boa educação. Para isso, tem de remunerar bem o professor, investir em laboratório e investir em educação integral. Todos são componentes do sucesso educacional”, ressaltou o ministro da Educação, Fernando Haddad. Os estudantes das escolas federais ficaram com resultados melhores do que a rede privada brasileira.
Muito bem, em uma reportagem do mesmo dia, temos a manchete: "Estudantes brasileiros ficam em 54º em ranking de 65 países"

Então como conciliar estas duas informações?

Simples: o problema é que a primeira reportagem compara a média de uma amostra selecionada com médias do sistema federal de outros países. Como não sabemos qual a dimensão deste sistema em outros países, isto acaba não informando direito (mais conhecido como cherry picking fallacy). Qual é o tamanho da rede pública federal da Coréia? Eu não sei... Mas sei algo sobre a do Brasil.

Com um pouco de matemática dá para saber a dimensão da rede pública federal no Brasil.

No cálculo do PISA, eu estimo que a rede pública federal constitui 0.03% do total, e possui média 528. Minha estimativa para a rede particular é 25.45% do total, e possui média 502. Finalmente, isto resulta na rede pública estadual e municipal constituindo 75.52%.

Enquanto a média da rede pública federal é de 528, a da rede particular é de 502 e a da rede pública municipal e estadual é de 387. Ao se comparar somente o sistema da rede pública federal com outros países (mesmo que se compare com redes públicas federais destes outros países) a estatística está, no fundo, comparando coisas que podem ser muito diferentes.

Se a nossa rede pública federal funciona como educação de elite, estamos comparando o que temos de melhor (e em pequeno número), com a rede federal de outros países (que pode ser maior ou pode nem ser o melhor do país).

Muito bem, então qual é a leitura correta?
  1. Que a rede pública federal  tem o melhor desempenho  na educação pública.
  2. Que a rede pública federal tem desempenho tão bom quanto de países desenvolvidos
  3. Que a rede pública estadual e municipal tem o pior desempenho na educação pública.
E isto. Se soubermos quanto dinheiro vai para cada um dos setores então é até possível tomar algumas decisões mais educadas sobre como devemos gastar o dinheiro da educação. Talvez valha a pena retornar a este problema em um post futuro.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Taxas

A idéia de linearidade é muito poderosa na estimação. A linearidade tem uma vantagem interessante que é a simplicidade na normalização dos dados. E daí vem as taxas...

Boa parte do que se coloca como dados da economia, da sociedade, ou coisa que valha é costumeiramente colocado em termos de uma taxa.

Esta taxa, quando referida a um país, geralmente é normalizada pela população. E aí temos os famosos dados "per capita" (PIB, nascimentos, doentes, e assim vai). Quando os dados per capita são muito pequenos, então utiliza-se um multiplicador para torna-los mais visíveis.

E assim temos, nascimentos por 100.000 habitantes, casamentos por 100.000 habitantes e assim vai.

É um conceito simples e ao mesmo tempo um pouco ilusório. Escolhe-se um dado em particular, e aí se considera que aquele dado é uma função da população (N). Entretanto, mais do que uma função qualquer, considera-se, mesmo que subliminarmente, uma função linear.

Um exemplo é o PIB per capita de países. O primeiro da lista é Luxemburgo, os Estados Unidos são o número 13 e o Brasil é número 63.  Neste caso considera-se que o PIB é PIB(N) e para "normaliza-lo" dividimos pela população (N) - o PIB per capita é PIB(N)/N

Já em termos de médicos por 1.000 habitantes o Brasil tem 1.72, em comparação com 2.67 dos Estados Unidos, ou  1.94 da Venezuela (caso comparemos com 100.000 habitantes, basta multiplicar o número por 100: Brasil 172, EUA 267 e Venezuela 194).

Já no caso de enfermeiros por 100.000 habitantes temos 94 (mas em termos de técnicos de enfermagem o valor é 4 vezes maior). No caso de outros países a coisa muda bastante: na Rússia este número é 810, no caso dos Estados Unidos o número é 1080.

No caso de dentistas este número é de cerca de 110.

Já em termos de advogados somos o número 2 do mundo: 3.27 por 1000 habitantes, só perdendo para os Estados Unidos com 3.71 por 1000 habitantes. A reportagem de onde estes números foram extraídos e depois corrigidos tem um erro de conta (que pode ser avaliado aqui).

Em termos de engenheiros, o Brasil gradua cerca de 8 engenheiros por 100.000 habitantes. A França e Inglaterra graduam 4 vezes mais do que isso, enquanto a Coreia gradua cerca de 10 vezes mais do que isso.

Bem, aí vem a pergunta: isso é muito? isso é pouco? Aí tem que se ter uma base de comparação.

E aí a coisa pega.

Usamos o que? Uma média mundial? Comparação país-a-país? Correlação com outras variáveis?

Ah, mas isto é só parte do problema. Ao "normalizarmos" o problema, será que estamos complicando ou simplificando a explicação? Como assim? Bom, vamos supor que a população não seja a única variável relevante... Ou seja, vamos supor que o problema é de múltiplas variáveis - e que a população não é a variável mais relevante. Em termos matemáticos, ao invés de um f(N) temos um f(N,M), sendo que N não é a variável mais importante.

Mas é mais complicado do que isso.

Mesmo se a população for a única variável, ou seja f(N), ainda há boa chance da relação não for linear. O que isso causa? Bom, se a relação não for linear então normalizar a população não irá gerar uma taxa fixa. Matematicamente:

Se f(N)=a*N, então f(N)/N = a (que não se altera). Um exemplo disso pode ser visto aqui. Ou na figura a seguir, que trata de homicídios por 100.000 habitantes (veja o caso do Brasil).

Mas se f(N)=a*N*(1+b*N), então f(N)/N = a+a*b*N (ou seja o crescimento da população irá afetar a taxa). No primeiro caso teríamos uma constante enquanto no segundo caso teríamos uma função linear (algo assim). Um exemplo clássico deste comportamento é justamente o PIB per capita!

O caso mais comum é uma combinação dos dois efeitos. O exemplo que melhor ilustra isto é a evolução da Dengue. Há uma componente sazonal e pelo menos uma componente populacional (que não é linear).
O que a linearidade, múltiplas variáveis e não linearidade querem dizer? Bem, eu gostaria de que as pessoas pensassem um pouco nisso. A linearidade mostra que o indicador específico é determinado pelo tamanho da população. O sistema de múltiplas variáveis indica que não é somente a população que determina o tamanho do problema. No caso de não linearidade, mas com apenas uma variável, um comportamento do tipo f(N)/N = a+a*b*N mostra que as interações entre elementos da população são importantes também.

Muito bem, e o que isso tem a ver com as perguntas que fizemos anteriormente (Usamos o que? Uma média mundial? Comparação país-a-país? Correlação com outras variáveis?)?

Antes de mais nada é necessário entender COMO a taxa se relaciona com a população. Só a partir daí é que pode-se pensar em uma solução de verdade.

quarta-feira, 14 de março de 2012

É como dizem

"Explanations exist; they have existed for all time; there is always a well-known solution to every human problem — neat, plausible, and wrong.". O autor dessa frase é Howard Louis Mencken.

Esta frase deveria estar gravada em todos os livros educacionais do mundo.

Como este blog insiste em apontar, as coisas são mais complicadas do que parecem. A sabedoria em aprender está em simplificar um problema o suficiente para entendê-lo e não para satisfazer critérios arbitrários.

A lição é que mais frequentemente do que desejamos, as explicações simples geralmente estão erradas (ou no mínimo simplistas). Não é sempre o caso, mas costuma ser muito, muito comum.

Dessa vez eu não vou falar de ciências sociais, mas de um mito de física excepcionalmente arraigado na mente das pessoas. Que mito? Quanto maior a queda, maior o impacto!

Pura verdade? Nope!

O mito é verdade em um mundo que não haja resistência de fluidos, no caso em questão a resistência do ar. E devido a resistência do ar, existe um conceito chamado velocidade terminal. Basicamente, a velocidade não irá crescer sem limites, mas irá se estabilizar em um valor (que dependerá da massa, da área e de outros fatores). Quanto menor a área, menor será a velocidade terminal. Quanto maior a massa, maior será velocidade terminal.

A verdade é que no caso de uma pessoa em queda livre, a velocidade terminal é atingida após uma queda de 600 metros. As equações relevantes podem ser encontradas aqui.

Muito bem, e o que isso significa? Que objetos atirados para o alto não irão necessariamente cair com a mesma velocidade que foram lançados. Balas atiradas ao alto cairão a velocidades significativamente inferiores. Cair de 1 km ou de 600 metros é praticamente a mesma coisa (mas cair de 30 metros ou de 10 metros é outra história).

Ah, e exatamente por causa da resistência do ar é que um martelo e uma pena não chegam ao solo ao mesmo tempo.

Já no vácuo a história é bem mais simples...

terça-feira, 13 de março de 2012

Publicidade e Dinheiro

Saiu uma notícia no Globo mostrando que o mercado publicitário movimento perto de R$ 40 bilhões em 2011.

Esta notícia é mais interessante pelo fato de estar recheada de informações extras:
  • A movimentação em 2010 foi de cerca de R$ 36 bilhões
  • A movimentação em 2009 foi de cerca de R$ 31 bilhões
Dos R$ 40 bilhões
  • R$ 32 bilhões foram gastos na compra de espaço e quase R$ 8 bilhões foram gastos na produção dos comerciais.
  • A internet teve R$ 1.4 bilhões de investimento (em 2010 foi de R$ 1.2 bilhões)
  • As TVs por assinatura tiveram R$ 1.1 bilhões de investimento (em 2010 foi de R$ 930 milhões)
  • A TV aberta teve investimentos de R$ 18 bilhões (que corresponde a 63% do orçamento de anúncios do setor)
  • Os jornais tiveram investimento de R$ 1.1 bilhões (comparado com R$ 1.06 bilhões em 2010)
E isto permite algumas deduções educadas. Se o orçamento da TV aberta corresponde a 63% dos orçamentos de anúncios no setor, então este valor é de 28 bilhões (28.6 para ser mais preciso). Ora, se somarmos os gastos com internet, TV por assinatura e jornais chegamos a cerca de 4 bilhões. 18+4 = 22. Então aonde estão os outros R$ 6 bilhões?

Talvez no relatório original seja possível descobrir.  Ou talvez, olhando para o passado se encontre a resposta: dos 40 bilhões, realmente 28 bilhões é a fatia que cabe aos veículos. Segundo este link:
  • TV aberta - 63%
  • TV paga - 4%
  • Jornal - 12%
  • Revista - 8%
  • Rádio - 4%
  • Internet - 4%
  • Guias e Listas - 1%
  • Cinema - 1%
  • Outdoor - 3%
E esta é distribuição aproximada.

Qual é a importância disso? Aqui os caros leitores tem em primeira mão o quanto os veículos recebem de publicidade. E com isso é possível estimar o percentual que é a publicidade na receita do veículo (assim não se fica mais no achismo).

segunda-feira, 12 de março de 2012

Coisas que Mentimos para Nós Mesmos - 16

Um post do Fernando Rodrigues me chamou a atenção. O assunto é um comercial do Guardian mostrando como a história dos três porquinhos seria relatada pela mídia e meios de comunicação modernos.

No entanto, me chamou a atenção o fato de ele ter incluído outro comercial do Guardian de 1986 sobre pontos de vista. Ao contrário da forma que ele apresentou, vou mostrar primeiro o comercial moderno.

E só agora o de 1986

Notaram algumas diferenças (além do segundo ter 1/4 da duração do primeiro)?

A mais relevante para este post é a seguinte: O segundo comercial tem um quadro completo que elucida toda história. Todos os demais pontos de vista são apenas uma parte do todo - e apenas olhando o todo é que se vê todo o sentido.

Já o primeiro comercial parece praticamente proclamar: não há quadro completo, mas sim um conjunto de opiniões divergentes que, ao contrário de elucidar o acontecido, termina por impedir que se descubra o que realmente ocorreu.

Não há quadro completo. Não há "big picture". É apenas a propagação da versão, ao invés do esclarecimento da informação. Há "especialistas" dizendo que isto ou aquilo era impossível (tal como o Huff and Puff do Lobo), que o Lobo era na verdade uma vítima, ou que os porquinhos cometeram fraude de seguro...

E posso dizer: este quadro de incertezas é precisamente o quadro de hoje.

Então qual é a mentira que contamos para nós mesmos? Que possuímos mais acesso a verdade, quando na realidade possuímos mais acesso à opiniões e interpretações dos fatos.

E a verdade é que mesmo com isso, não temos mais capacidade para entender o que ocorre no mundo.

domingo, 11 de março de 2012

Kolchak: Demônios da Noite

Esta é uma série de 1972, e começou a existir devido a um filme que foi feito pela ABC (The Night Stalker - que vocês vêem aqui).

O seriado teve vida curta, apenas 20 episódios. Mas em contrapartida, o mesmo teve influência duradoura. Podemos dizer até que o famoso Arquivo X bebeu nesta fonte.

O conceito era do repórter Carl Kolchack que sempre se envolvia em casos que acabavam por envolver o sobrenatural ou a fantasia. Em 2005, uma nova versão de Night Stalker foi criada para televisão. Infelizmente, ou felizmente, esta versão só sobreviveu 10 episódios.

sábado, 10 de março de 2012

Pequenas Pérolas do Cinema - 50

Hoje temos programa duplo: O Dólar Furado

E O Ouro de McKenna

E o melhor de tudo: o filme completo (em inglês, mas ainda assim completo). Os dois filmes estão disponíveis no youtube (se procurar, talvez você encontre até versões em português). A verdade é que eu não era muito chegado em faroestes quando era menor. Sempre preferi ficção científica. Mas com o passar do tempo comecei a apreciar a beleza e poesia dos westerns. Eu até tenho um preferido que deixo aqui de brinde: Da Terra Nascem os Homens.

Hoje eu considero que o gênero tem clássicos de primeira grandeza. E alguns deles estão justamente aqui neste post!